Introdução sobre a Oração

Uma das características da avalanche que se abateu sobre a Igreja é o desaparecimento da piedade católica, substituída por orações e atitudes de inspiração protestante. Durante muito tempo o Terço foi jogado fora, literalmente. As orações novas, de uma vulgaridade impressionante, só tratavam com Deus e com seus santos em linguagem familiar, empregando o tu, você etc. Partindo de um princípio falso, de que só a liturgia valia como oração, que tudo devia ser "comunitário", "social", eles abandonaram as orações tradicionais do católico, aquelas que se aprende no colo das mães. Hoje, aparentemente esta situação melhorou, pois voltaram a rezar o Terço e muitas orações antigas apareceram novamente. Mas o espírito já está totalmente mudado. Rezar para os santos, sim, mas segundo eles há santos dentro do protestantismo! A própria linguagem que empregam é copiada das seitas: já não rezam mais, agora louvam. E é de obrigação para eles darem as mãos, numa atitude copiada dos espíritas e pentecostais carismáticos, que lhes traz não sei que espécie de eflúvio energético, desconhecido da doutrina católica.

Já diziam os santos: quem reza se salva, quem não reza se condena. Nas agitações dos dias modernos, quem vai parar sua correria para se dedicar alguns minutos à  vida eterna? Quem esquecerá o dinheiro, ou o descanso, deixar de ligar uma televisão mesmo sabendo que ela vomitará seu lixo habitual, para dobrar os joelhos diante de Deus e chorar suas fraquezas e seus pecados. Ah! se ao menos nós quiséssemos ser santos. Se tivéssemos esse gosto, esta busca, esta convicção de que, por nós mesmos nada podemos, mas pela ação da graça em nós, vamos cada dia mais nos aproximando do Coração de Jesus, do seu amor. É a obra da Oração.

Para que nossa oração seja eficaz, é preciso que ela seja acompanhada de uma boa preparação: pela confissão dos pecados, de modo a termos em nossas almas a amizade de Deus Nosso Senhor; pelo recolhimento, que fará silenciar em nós as agitações do dia e nos concentrar no grande fogo de amor que é o Coração de Jesus; pela perseverança, que não nos afastará da oração, pois quando vamos rezar nos lembramos de mil coisas que precisamos fazer com toda urgência...tentações do demônio que não quer nos ver rezando; pela humildade, que nos fará olhar para dentro de nós mesmos na realidade de nossas faltas, de nossas fraquezas, e não no orgulho vão e inútil que nos faz só pensar em nós mesmos e no nosso proveito.

A oração vocal é a recitação das orações já estabelecidas, com textos aprovados pela Santa Igreja.

A oração mental é a meditação, pelo pensamento, dos mistérios da vida de Jesus, da Virgem Maria, ou da nossa própria miséria e misericórdia divina.

Tanto uma quanto a outra estão a serviço da união da alma com Deus. Esta união não é algo que necessariamente se sente, mas é uma certeza da presença de Deus em nossas almas, certeza silenciosa e pacífica, que nos inclina a prolongar aqueles momentos diante do Senhor. Devemos sempre deixar alguns instantes da nossa oração para o silêncio, de modo nos habituarmos à linguagem divina.

"Oportet semper orare" - devemos sempre rezar, ensina Jesus no Evangelho. A alma que se exercita no rude combate da oração tem em seu interior um fogo de amor que estará presente em todas as ocasiões de sua vida, tornando verdadeira esta palavra de Nosso Senhor.

Peçamos à Virgem Maria que nos ensine a rezar, como ensinou a seu Filho, nos anos de sua infância mortal.

Dom Lourenço Fleichman OSB

Nota sobre algumas traduções errôneas:

1) No Credo, a tradução moderna "desceu à mansão dos mortos" deve ser ignorada, não somente porque o texto latino diz "inferis", região baixa, sempre ensinado pela Igreja como sendo o Limbo, onde os santos do Antigo Testamento aguardavam que Jesus Cristo lhes abrisse as portas do céu. Mas também porque esta tradução moderna levou a uma interpretação herética deste termo. Com efeito, segundo alguns, mansão dos mortos significaria o túmulo de Cristo, o que deve ser rechaçado contrário à Fé Católica. Devemos, então, rezar: "desceu aos infernos", como a Igreja sempre rezou.

2) No Pai Nosso, uma outra tradução infeliz fez introduzir-se o costume de dizer: perdoai as nossas ofensas. Ora, o texto latino diz: "débita" que não pode, de modo algum, ser entendido como "ofensas". Devemos restaurar o costume de dizer: pedoai as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.

3) Mais recentemente os progressistas, na ânsia de tudo mudar, atacaram-se ao Glória ao Pai, a conclusão de algumas orações. Uma  mutilação inútil, estranha e sinistra praticamente destruiu esta antiqüíssima doxologia.  Eis o modo correto: Glória ao Pai ao Filho e ao Espírito Santo; assim como era no Princípio, agora e sempre, por todos os séculos dos séculos. Amém

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