Acabamos de passar algumas semanas ouvindo, mais uma vez, pessoas imprudentes e ávidas de sensacionalismos, falando de um acordo entre Roma e a Fraternidade S. Pio X. Explicam eles até mesmo a forma como se organizaria a Fraternidade. E as almas se sentem inseguras, sem saber onde está a verdade. Estaria Dom Fellay caindo na mesma armadilha em que caíram os padres da F. São Pedro, do Barroux e de Campos? Vai, o superior geral da Fraternidade, abraçar o Concílio como os outros abraçaram? Já respondemos, no ano passado, a estas mesmas questões: A condição mínima.

Mais uma vez Dom Bernard Fellay vem a público explicar aquilo que todos já sabiam, já tinham ouvido da própria boca de Dom Fellay. Mais uma vez vem ele a público para tranquilizar nossas consciências de católicos. Acordo com Roma significa conversão de Roma. Estamos infelizmente, ainda longe de ver os sinais desta conversão.

Transcrevi para nossos leitores, do arquivo de áudio disponibilizado na internet pelo site La Porte Latine, , meio às pressas, o trecho do sermão pronunciado por Dom Bernard Fellay, na festa da Apresentação do Menino Jesus no Templo, dia 2 de fevereiro passado. Peço que me perdoem pelos possíveis erros na transcrição. Mas o essencial está aí para quem quiser ler.

Dom Lourenço Fleichman OSB

 

EXTRAÍDO DO SERMÃO DA FESTA DA APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO

Todo pensamento que introduz a dúvida, a inquietude, a desconfiança, não vem de Deus. É outro espírito, o espírito do demônio, que sopra essa agitação frenética de alguns meios de hoje, jogando a desconfiança no meio dos fiéis.... "o Superior Geral está em negociações para obter uma Administração Apostólica".... tudo isso é vento, é vazio. A única verdade é que, depois da audiência com o Papa [29/8/2005], falando com o Card. Hoyos, dia 15 de novembro eu pude dizer a ele nossas reservas, nossa espera diante de Roma ...dissemos: "a vida católica não é mais possível hoje; depois do Concílio a vida católica se tornou impossível. Nós não somos contra os acordos, mas é preciso que eles se tornem possíveis. E como nós não vamos nos mover nem um dedo porque queremos permanecer católicos, é preciso: 1- condenar os abusos, retomar em mãos a Igreja, praticar atos nesse sentido. 2 - atos positivos: reintroduzir esta vida católica com suas exigências, as da fé católica; devolver a liberdade à missa. Depois nós constatamos que Roma não nega mais que exista uma crise na Igreja. E mesmo, há pessoas sérias, em Roma, que estão "apavorados", mesmo se nos seus discursos eles dizem o contrário ... o Papa é o primeiro. Mas o problema é que não estamos de acordo com as Causas dessa crise. Roma atribui a crise ao mundo, ao mal. Nós expusemos ao Card, retomando a Carta de Mons. Lefebvre ao Card. Ottavianni , um ano depois do fim do Concílio, Mons. mostra as conseqüências do Concílio, em si mesmo, não pelos abusos,  conduzindo à crise atual. É admirável essa carta de Mons. Lefebvre. A culpa é do Concílio. O Concílio reuniu esses erros do mundo e os inoculou nas veias da Igreja. Querem sair da crise? esqueçam a Fraternidade um momento e dediquem-se a resolver a crise. Depois a Fraternidade não será mais um problema para os senhores. Depois o Card. disse: "Eu constato que tudo isso que o senhor me diz não coloca a Fraternidade fora da Igreja. Os senhores estão dentro da Igreja e eu queria que o senhor escrevesse ao Papa pedindo que ele levante as excomunhões."

Estamos nesse ponto. Pois evidentemente não vamos pedir que se levante uma excomunhão que não reconhecemos como válida. Não vamos pedir que desapareça algo que não existe. Claro que nós pedimos a anulação do decreto de anulação, não da excomunhão, que não existe para nós. Pela primeira vez parece que Roma quer ir nessa direção que nós propusemos no ano 2000. Mas antes, precisamos saber: onde Roma quer ir, com essa mudança de tática. É claro que Roma, o Papa, quer regularizar a situação, e rapidamente. De nosso lado insistimos que, antes de um acerto prático, é preciso eliminar os princípios que são geradores da crise e que nos mataria, se os aceitássemos. Estamos neste ponto. Pedimos à Roma que examine esses princípios mortais da Igreja, para eliminá-los: o liberalismo, o modernismo que entrou na Igreja, que mata a vida cristã, que se manifesta na colegialidade, no ecumenismo, na liberdade religiosa, nesse conceito avalizado por Bento XVI, repetidamente, do Estado laico. O papa, no seu discurso de 22 dezembro, diz que a Igreja voltando ao Estado laico, retorna ao Evangelho. Mas o Evangelho diz o contrário. Diz o Evangelho "Que Ele Reine". S. Paulo nos diz admiravelmente que toda autoridade vem de Deus... e que se nós devemos nos submeter às autoridades civis, é porque elas são lugares-tenentes da autoridade de Deus. É de Deus que elas recebem essa autoridade sobre as almas. E respondem a Deus, A Nosso Senhor Jesus Cristo, sobre a maneira de exercer a autoridade. Que seja Nero, Hitler, Chirac... deverão aparecer diante de Jesus Cristo para prestar contas do modo como exerceram o poder. Porque Ele é o rei de todos, que sejam pagãos ou cristãos, é a mesma coisa. Ele é o Rei de todos. E basta olhar de mais perto a influência da sociedade civil sobre a vida dos homens. É evidente que uma sociedade impregnada das leis de Deus ajudará a alma a se salvar. O contrário é também evidente. Esta sociedade civil na qual a vida de cada um se desenvolve, tem necessariamente uma influência sobre todos. Esta sociedade civil precisa estar em harmonia com a Igreja e então os princípios, a lei humana deve estar impregnada até o fim da lei de Deus, do Decálogo, mesmo se esta sociedade civil é temporal. Não há contradição. Para nós, isso é evidente. Mas para o Papa atual, temos a impressão que o estado laico é que é evidente, faz parte de princípios que não se precisa demonstrar. Daí um imenso problema. Um ponto de choque com as autoridades romanas. O resumo disso: o Concílio, que percebemos tão bem na questão da Liberdade Religiosa.

Continuemos este caminho tão bem indicado por nosso fundador, Mons. Lefebvre. A Igreja tem a promessa de indefectibilidade. As portas do Inferno não prevalecerão sobre ela. Ela ultrapassará esta crise. Nós devemos colocar toda nossa energia, em nosso lugar, para vencer esta crise. Logo, nós temos sempre que estar em relação com Roma. É um erro achar que não devemos nos encontrar com eles. Nós esperamos que um dia eles se tornem católicos e não haja mais necessidade de se discutir com eles. Ouçam S. Paulo falando dos pagãos dizendo: como se converterão se ninguém lhes lembrar os princípios? O caminho habitual de Deus é usar as causas segundas para salvar as almas. Não temos papel espetacular, mas estamos em  circunstâncias da história onde Deus nos colocou no qual temos de cumprir nosso dever de estado, cada um em seu lugar. Tentemos obter o máximo de bens dessas autoridades que estão, é claro, nas trevas. Rezemos ao bom Deus que esta luz da salvação brilhe novamente na Igreja. Tenhamos um coração de Apóstolo, não coloquemos a nossa luz embaixo da trave. Se Deus nos deu a nós a graça de ver  com clareza, seria um pecado guardar isso para nós. Devemos ter, no fundo do coração, o desejo de ganhar todas as almas. É preciso trabalhar, ter um coração grande como o Coração de Nosso Senhor, nosso modelo. Cada dia, o padre, na missa, celebra o sacrifício de valor infinito, de poder universal. As graças da missa tocam o mundo inteiro, toda a Igreja. Seria ridículo ver um padre que, ao fazer um ato imenso como esse, reduziria tudo a si mesmo. No início do Cânon, ele reza por toda a Igreja. Guardemos esse espírito, cada dia maior, com, evidentemente, a prudência necessária. Confiemos estas graves intenções a nossos seminaristas, as grande intenções da Igreja, à N. Sra na festa de hoje. Que Ela nos apresente a Deus, cada dia mais purificados, na cooperação à sua graça.

Dom Bernard Fellay - Superior Geral da Fraternidade São Pio X

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