Esta conferência foi pronunciada em 1998, na Capela Nossa Senhora da Conceição, para dar aos fiéis orientação diante do Projeto do Terceiro Milênio, lançado pelo Papa João Paulo II e largamente difundido pela CNBB. Apesar da data, ela guarda toda sua atualidade. Vale a pena reler também o trabalho da Fraternidade S. Pio X sobre o Ecumenismo, Do Ecumenismo à "Apostasia Silenciosa", a Sinopse dos erros imputados ao Vaticano II assim como vários outros textos presentes em nosso site.

 

 

ANO 2.000 - A VOLTA AO MONTE SINAI

 

DO  DEUS CIUMENTO AO DEUS ECUMÊNICO

 

                                                                                              Dom Lourenço Fleichman, OSB

 

«Não farás aliança com eles, nem com os seus deuses. Não habitem na tua terra para que te não façam pecar contra mim, servindo os seus deuses, o que certamente seria para ti um escândalo»

(Êxodo, 23, 32-33 - Recomendações de Deus a Moisés antes deste subir ao Monte Sinai)

 

«Abstém-te de contrair em algum tempo, com os habitantes daquela terra, amizades que te sejam ocasião de ruína. Mas destrói os seus altares, quebra as suas estátuas e corta os seus bosques sagrados. Não adores nenhum deus estranho. O Senhor tem por nome Zeloso; Deus é ciumento. Não faças pacto com os homens daqueles países, a fim de que não aconteça que, depois de se terem prostituído com os seus deuses, te chame algum para comeres das coisas imoladas» (Êxodo, 34, 12-16 - Palavra de Deus a Moisés no alto do Monte Sinai)

 

«Mas vós, caríssimos, lembrai-vos das palavras preditas pelos Apóstolos de Nosso Senhor Jesus Cristo, os quais vos diziam que nos últimos tempos virão impostores que andarão segundo as suas paixões, cheios de impiedade. Estes são os que provocam divisões, homens sensuais, que não têm espírito de Deus. Vós, porém, caríssimos, edificando-vos a vós mesmos sobre o fundamento da vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos no amor de Deus» (Ep. São Judas, 17-21)

 

«E o que exige que sem demora falemos é antes de tudo que os fautores do erro já não devem ser procurados entre os inimigos declarados; mas, o que é muito para sentir e recear, se ocultam no próprio seio da Igreja, tornando-se destarte tanto mais nocivos quanto menos percebidos. (...)  Pasmem, embora homens de tal casta, que Nós os ponhamos no número dos inimigos da Igreja; não poderá, porém, pasmar com razão quem quer que, postas de lado as intenções de que só Deus é Juiz, se aplique a examinar as doutrinas e o modo de falar e agir de que eles lançam mão. Não se afastará, portanto, da verdade, quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja. (...) Além de que, não sobre as ramagens e os brotos, mas sobre as mesmas raízes, que são a Fé e suas fibras mais vitais, é que meneiam eles o machado» (São Pio X, encíclica Pascendi, 8/9/1907)

 

Em 1994, através de uma Carta Apostólica intitulada Tertio Millenio Adveniente (o Advento do Terceiro Milênio), o Papa João Paulo II convocou a humanidade, principalmente todas as religiões ditas cristãs, para celebrar os 2000 anos da Encarnação de Jesus Cristo. O tema desta conferência será o ecumenismo que iguala essas falsas religiões cristãs com o verdadeiro e único cristianismo, que só pode ser católico. Outros aspectos poderiam ser estudados, como a estranha relação que João Paulo II faz deste Jubileu do ano 2.000 com o ano jubilar prescrito por Deus na lei de Moisés, (daí a realização do jubileu no Monte Sinai); a linguagem dúbia e indefinida que usa termos antigos com significado novo:

evangelização = união de todos os cristãos, através de quatro atitudes que formam a vida cristã, para eles: testemunho, serviço, diálogo e anúncio. A própria vida sacerdotal e ministerial se resume a isso, preparando assim a união cultual entre católicos e protestantes.

conversão = adesão do coração ao projeto de união de todos os cristãos

Cristo = a maneira de falar de Jesus Cristo denota uma doutrina herética. Evento Cristo, celebrar Cristo. Tudo muito próximo da noção modernista e protestante do Cristo da Fé, oposto ao Cristo histórico.

Inculturação = expressar a fé (subjetiva) de acordo com a cultura de cada povo.

 

O estudo desses termos ambíguos fica para outra ocasião. O que quero mostrar hoje é que o Ecumenismo, base ou fim almejado por eles, destrói as bases da Igreja Católica. E isso será dito pelo próprio Papa, pelos bispos e seus projetos mundialistas de uma única religião futura.

Seguindo assim a orientação do Papa, a CNBB lançou o Projeto Nacional Rumo Ao Novo Milênio, que deve durar quatro anos, de 1997 até 2000, cada ano dedicado a um tema.

 

Dentro desse projeto, a CNBB publicou uma coleção de livretos dando orientações práticas e teóricas sobre a busca da União. O que é Ecumenismo, editado pela Paulinas como nº 6 dessa coleção, foi publicado em 1997. O texto é apresentado por Dom Ivo Lorscheiter, «responsável pela Dimensão Ecumênica e do Diálogo Inter-Religioso da CNNB», mas é de responsabilidade da própria CNBB, o que lhe confere um caráter oficial, como aliás aparece no próprio texto.

O livreto está dividido em duas partes:

1ª - «Refletindo sobre esse tal ecumenismo» (pag. 11 a 36). Como explica a introdução, trata-se de um roteiro para trabalho em grupo além de orientações sobre o tema, que são bastante esclarecedoras, pois revela as intenções dos bispos e do próprio Vaticano.

2ª - «O que nos diz o Papa» (pag. 37 a 61) Comentário sucinto da Encíclica de João Paulo II, Ut unum sint (que eles sejam um). A introdução  do livro comenta assim: «Parece-nos indispensável que os católicos saibam com que veemência a autoridade maior da Igreja afirma a necessidade de cultivar carinhosamente a aproximação ecumênica. Assim esperamos contribuir para que nossas comunidades entendam que, ao sermos ecumênicos estamos fazendo exatamente o que exige a nossa Igreja e não estamos ficando nem um pouquinho “menos católicos”.

 

Apesar dessa última frase, é fácil verificar que existem nesse livro diversos aspectos que chocam a consciência católica. Os dois que me parecem mais importantes são:

 

a) a constância com que a Igreja Católica (a do passado, lógico) é apresentada como culpada e responsável pela existência, ao longo da história, de toda sorte de heresia. Na sua luta contra o erro (este sim divide) a Igreja teria provocado a reação dos ortodoxos, protestantes etc. que não teriam tido outra opção senão se separar!!! «Estamos acostumados a culpar os reformadores pela separação, mas também é verdade que não teria havido quebra da unidade se não estivessem acontecendo outras coisas bem lamentáveis dentro da Igreja e se não houvesse interesses políticos em jogo, disputas de poder de ambas as partes».

De onde se conclui que, para a CNBB:  1) a Igreja foi culpada pela reação dos protestantes e ortodoxos. 2) Os hereges tinham razão em se rebelar.

 

O ecumenismo é, então, a grande solução. E os representantes da Igreja, hoje, vão penetrando cada dia mais profundamente numa nova espiritualidade, numa nova doutrina, numa nova religião. A CNBB fará eco ao apelo do Papa àquilo que eles chamam de conversão[1], ou seja, a adesão dos católicos ao espírito ecumênico.

 

b) E essa conversão tem caráter obrigatório:

«É preciso que as informações corretas sobre o ecumenismo passem a fazer parte da catequese em todos os níveis. Ignorar o assunto é prosseguir como se não houvesse acontecido  o Concílio Vaticano II, é ser infiel à Igreja».

«Relembrando os ensinamentos do Concílio Vaticano II, pede-se que todos os fiéis participem do trabalho ecumênico, porque a unidade que buscamos não é um elemento acessório, é parte essencial da obra do Senhor».

«Não temos que ter espírito ecumênico só quando estamos fazendo uma celebração de formatura junto com outras Igrejas ou em qualquer outro tipo de contato com os de fora. Temos que levar em conta os princípios ecumênicos em todas as atividades da Igreja: na liturgia, na catequese, na produção de material de evangelização, nos grupos de oração, nas pregações, na ação social, nas declarações que fazemos em público e em particular».

«Como nada disso é mera norma exterior, o documento destaca a importância da oração em todo o processo de busca ecumênica. Explica que a oração é a alma do ecumenismo. O ecumenismo é de fato um tipo de espiritualidade».[2]

 

O que acontece, é que nunca, em nenhum momento da vida de Nosso Senhor, dos Apóstolos ou ao longo de dois mil anos de Magistério ordinário e extraordinário, nunca a Igreja ensinou que esse diálogo, que essa união de todas as religiões fosse uma nota essencial da Igreja, ou melhor, fosse a nota essencial da Igreja. Para que o ecumenismo possa ser aceito e assimilado, será, então, necessário modificar uma série de termos e de verdades da religião católica, dando a entender que Jesus pediu ecumenismo, que Jesus morreu pelo ecumenismo. Assim a Fé, deixa de ser adesão da alma ao depósito revelado, a um corpo de doutrina objetivo, ensinado por Jesus Cristo no Evangelho, confirmado pelos Apóstolos e guardado intacto pela Igreja. A Fé passa a ser uma realidade subjetiva, e nesse passe de mágica passa a integrar a vida dos hereges. Destruída a noção de Fé sobrenatural, fica aberta a porta do verdadeiro Batismo para a maioria das falsas igrejas. Com isso, destrói-se a noção de Igreja como a reunião, em torno da Cabeça que é Cristo, daqueles que receberam o batismo católico, que professam a Fé integral naquilo que a Igreja ensinou ao longo de dois mil anos. Está aberto o caminho para modificar as quatro notas essenciais da Igreja: Una, Santa, Católica e Apostólica.

A Igreja sempre ensinou que essas quatro notas são essenciais. Já o Concílio de Constantinopla incluiu-as no símbolo da Fé que, até hoje, é rezado no Credo da Missa. Qualquer religião que não apresente essas quatro notas não é a religião fundada por Jesus Cristo. Isso está resumido no Catecismo de São Pio X da seguinte forma:

 

«Como se pode distinguir a Igreja de Jesus Cristo, de tantas sociedades ou seitas fundadas pelos homens e que se dizem cristãos? Resp: Pode-se distinguir a verdadeira Igreja de Jesus Cristo...por quatro notas características. Ela é una, santa, católica e apostólica».[3]

 

Essa destruição da noção de Igreja será feita sem se dizer claramente. Assim, continuando a se dizer católicos, eles introduzirão o dogma da religião ecumênica.

É dramático, mas não somos nós que dizemos. Tudo isso aparece claramente na orientação oficial do Vaticano, do Papa João Paulo II, e das conferências episcopais, como esse livreto da CNBB que comentamos. Eis como foi feito o ataque.

 

A NOTA DA UNIDADE É DESTRUIDA

 

O ecumenismo é apresentado como aproximação, cooperação, busca fraterna da superação das divisões com as outras igrejas cristãs[4]. A unidade deve ser buscada a qualquer preço, independente da crença de cada um, desaparecendo a noção de unidade na Fé (depósito sagrado, revelação), logo desaparecendo uma das notas essenciais da Igreja Católica. «O que prejudica o anúncio do Evangelho é estarmos separados e freqüentemente em oposição, um grupo atacando o outro».[5]  Para o texto da CNBB, a diferença de Fé, de doutrina não prejudica em nada ao anúncio do Evangelho. Todas as crenças são válidas, logo, para quê brigar? 

Tanto o Papa, quanto os bispos no mundo inteiro, repetem sem cessar que não podemos estar separados. Mas se Nosso Senhor insiste muito nisso, no Evangelho de São João, é evidente que ele fala dos seus filhos, dos seus discípulos, daqueles que vivem na sua única Igreja.

E não esqueçamos que o próprio Jesus, falando dos que não abraçarem a fé, não será nada ecumênico: «Eu vim trazer fogo à terra; e o que quero eu, senão que ele se ascenda? Eu tenho de ser batizado num batismo e quão grande é a minha ansiedade, até que ele se conclua? Julgais que vim trazer paz à terra? Não, vos digo eu, mas separação; porque de hoje em diante haverá na casa cinco pessoas, divididas três contra duas, e duas contra três. Estarão divididos o pai contra o filho, e o filho contra seu pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra sua nora, e a nora contra a sua sogra».[6]

 

E os Padres da Igreja interpretam:

 

«Com isso disse o que havia de suceder. Poderá acontecer que em uma mesma casa haverá um que seja fiel e seu pai queira levá-lo à infidelidade. Mas, prevaleceu tanto a força da doutrina de Jesus Cristo, que os filhos abandonaram a seus pais, as filhas as suas mães e os pais aos filhos. Convém pois que os fiéis de Jesus Cristo não só renunciem à si próprios, mas também que sofram tudo, desde que não abandonem a Fé.»[7]

 

Ora, se eles nos ensinam hoje que devemos buscar a unidade, significa que não a temos. Donde se conclui que, para João Paulo II, ela não é uma nota essencial da Igreja Católica, e sim da Futura super Igreja  Ecumênica, que nascerá (no Sinai?) quando a evolução religiosa alcançar a realização do Projeto do Reino.

 

A Doutrina Católica sobre a Unidade:

 

O que é a nota da Unidade? Reconhecemos sem dificuldades que só a Igreja Católica possui unidade de Fé. Só ela conserva, ao longo dos séculos, a mesma doutrina, os mesmos sacramentos, sempre ensinando que só é católico aquele que possui essa Fé, ou seja, crê na totalidade do Depósito Revelado.

Assim ensina o Catecismo de S. Pio X:

 

«Digo que a verdadeira Igreja é una porque os seus filhos, de qualquer tempo e lugar, estão unidos entre si na mesma fé, no mesmo culto, na mesma lei e na participação aos mesmos sacramentos, sob o mesmo chefe visível, o Romano Pontífice... Não pode haver mais de uma Igreja, porque assim como há um só Deus, uma só Fé e um só Batismo (Ef.IV), assim também não pode haver senão uma só Igreja  verdadeira». [8]

 

O ecumenismo nasce de uma falsa interpretação de Jo,17,20-23 sobre a unidade. «Os cristãos precisam estar unidos para que o mundo creia» [9]- ora, é evidente que N.Senhor não disse os cristãos, e sim eles. Eles quem? Aqueles que abraçaram a revelação, ou seja, os que têm Fé sobrenatural, que é adesão ao depósito revelado, logo os que fazem parte da Igreja Católica, única detentora da Revelação, única fundada por Jesus Cristo.

Esse é o ensinamento da Igreja, confirmado pelo Papa Pio XI, na encíclica Mortalium Animos, de 1928:

«Ninguém ignora, por certo, que o próprio João, o apóstolo da Caridade, que em seu Evangelho parece ter manifestado os segredos do Coração Sacratíssimo de Jesus, e que permanentemente costumava inculcar à memória dos seus, o mandamento novo: “amai-vos uns aos outros”, vetou inteiramente até mesmo manter relações com os que professavam de forma não íntegra e incorrupta a doutrina de Cristo: “se alguém vem a vós e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem digais a ele uma saudação” (2Jo,X). Pelo que, como a Caridade se apoia na Fé íntegra e sincera, como que em um fundamento, então é necessário unir os discípulos de Cristo pela unidade de Fé como no vínculo principal».[10]

 

Essa falsa interpretação de S. João, 17, 20-23 é protestante: «foi percebendo isso que nasceu, no meio dos missionários protestantes, o movimento ecumênico». [11]

E os bispos seguiram os protestantes: «Nossa Igreja entrou depois no movimento ecumênico e hoje pede aos católicos do mundo inteiro que ajudem a mudar essa história triste que oferece ao mundo o espetáculo dos cristãos que se desconhecem e se enfrentam em vez de se apresentarem claramente como irmãos que se respeitam e se querem bem». [12]

 

Como podemos ser irmãos se não professamos a mesma Fé? Se não assistimos ao mesmo culto, se não temos o mesmo batismo? Essa unidade entre católicos e hereges é falsa, temerária e condenada pela Igreja.

 

A NOTA DA APOSTOLICIDADE É REJEITADA

 

A CNBB considera de antemão que todos os que hoje são chamados de cristãos estão ligados à Jesus Cristo em igualdade de condições. O desmoronamento da Unidade como nota essencial da Igreja Católica acarreta a renúncia da Apostolicidade. Mesmo não tendo uma linhagem hierárquica e espiritual com os Apóstolos, os hereges como Lutero, Calvino e demais são vistos como verdadeiros representantes de Jesus Cristo.

«Justificados no Batismo pela Fé, (os membros das comunidades cristãs não-católicas) são incorporados à Cristo, e por isso, com direito se honram com o nome de cristãos e são justamente reconhecidos pelos filhos da Igreja Católica como irmãos no Senhor».[13]

 

Podem pregar, podem falar em nome de Cristo, sem que os bispos de hoje considerem uma usurpação da autoridade da Igreja docente (poder dado por Jesus Cristo aos Apóstolos de pregar e ensinar o Evangelho): «Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado será salvo, o que porém não crer será condenado».[14]

Eis o que ensinam os bispos:

«Os não-católicos não são todos falsos cristãos, nem suas comunidades deixam de merecer o nome de Igrejas. Lá Deus também se manifesta; de muitas formas a  única Igreja de Cristo está presente lá. Não somos proprietários exclusivos da graça. E se a graça de Deus as faz parceiras no trabalho do Reino, como não acolher com alegria o que essas Igrejas realizam?»[15]

 

A Doutrina Católica sobre a Apostolicidade:

 

Ensina o Catecismo Romano: «A verdade da Igreja também a conhecemos pela sua origem, que a graça da Revelação faz remontar até aos Apóstolos. Com efeito, sua doutrina não é verdade recente, nem aparece como coisa nova, mas é a que os Apóstolos já pregavam outrora e se espalhou como um germe por toda a superfície da terra. Portanto ninguém pode duvidar que as ímpias opiniões dos hereges ficam muito longe da crença da verdadeira Igreja, por serem contrárias à doutrina que a Igreja sempre ensinou, desde os tempos dos Apóstolos, até a presente data. Logo, para que todos pudessem saber qual era a Igreja Católica, foi por inspiração divina que os Padres (Concílios de Nicéia e Constantinopla) acrescentaram ao Símbolo a palavra “apostólica”. Em verdade, o Espírito Santo que preside à Igreja, só a governa por ministros que sejam de sucessão apostólica» [16]

 

Esta última frase significa que há uma linhagem sacramental que vai de bispo a bispo, de Papa a Papa, de São Pedro e dos demais Apóstolos até os Papas e bispos de hoje. É evidente que os Protestantes e demais seitas não possuem esta linhagem sacramental, pois que não possuem mais o verdadeiro sacramento da ordem. Romperam deliberadamente o laço hierárquico e doutrinário que nos une à Jesus e aos Apóstolos. Cumpriram à risca o que São Paulo predisse à Timóteo, e que a Igreja repete na Missa dos Santos Doutores: «Porque virá tempo  em que muitos não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pelo prurido de ouvir. E afastarão os ouvidos da verdade e os aplicarão às fábulas». [17]

Eles não são pastores e não podem pregar em nome de Jesus Cristo, porque não têm laços com os Apóstolos. É isso que ensina São Paulo: «Como pregarão eles se não foram enviados?»[18]

 

A NOTA DA SANTIDADE  DA IGREJA É DILUIDA

 

O ataque continua. Depois de ter massacrado a Unidade e a Apostolicidade da Igreja, a CNBB dilui a Santidade, mais uma das quatro notas essenciais que caracterizam a única Igreja de Jesus Cristo. «Você sabia que nossa Igreja reconhece como válido o Batismo de muitas outras Igrejas? ... Isso significa, entre outras coisas que não podem ser batizados de novo se resolverem se tornar católicos. Isso significa também, que podemos aplicar a eles o que o Catecismo da Igreja Católica [o novo] diz sobre o que o Batismo realiza em nós. E veja só o que lá está escrito:

- O Batismo nos faz membros do Corpo de Cristo e membros uns dos outros.

- Os batizados participam do sacerdócio de Cristo, de sua missão profética e régia

- A Santíssima Trindade dá ao batizado a graça santificante, concede-lhe o poder de viver e agir sob a moção do Espírito Santo.

- Das fontes batismais nasce o único povo de Deus da Nova Aliança.

 

Ou seja, esse reconhecimento do Batismo de certas Igrejas Protestantes por parte dos atuais dirigentes do Vaticano, não significa mais que esses batizados só podem (em certos casos) pertencer à Igreja Católica invisivelmente, como sempre  ensinou a Igreja, mas que suas seitas possuem uma doutrina de salvação capaz de levá-los ao céu: «há elementos de santificação e de verdade presentes nelas» [19] A mesma doutrina é ensinada no novo catecismo: «Além disso, muitos elementos de santificação e de verdade existem fora dos limites visíveis da Igreja Católica: a palavra escrita de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança e a caridade, e outros dons interiores do Espírito Santo e elementos visíveis. O Espírito de Cristo serve-se dessas igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação cuja força vem da plenitude de graça e de verdade que Cristo confiou à Igreja Católica. Todos esses bens provêm de Cristo e levam à Ele e impelem à unidade católica». [20]

Juntando o texto do livrinho e esta citação do Novo Catecismo, vemos que, para a CNBB, os protestantes e afins também vivem na graça santificante, também vivem sob a moção do Espírito Santo, também participam do sacerdócio de Cristo, também fazem parte do povo de Deus. Em suma, o que nos separa passa a ser pequenas querelas “secundárias” que o tempo cuidará de dissolver. Eles são santificados como nós e podem alcançar a vida eterna sem pertencer à Igreja Católica.  Isso porque os bispos seguem a Nova Teologia de Henri De Lubac e Urs von Balthasar, segundo a qual, “A Católica” é a futura Igreja de Jesus Cristo, que existirá quando as diferenças entre as atuais igrejas cristãs (Católica Romana, Ortodoxa, Anglicana, Luterana, etc) chegarem ao termo do movimento ecumênico. Para Urs von Balthasar, cada confissão é um pedaço do todo (A Católica) e só encontrará sua plenitude quando estiver unida ao todo. Tudo isso visto numa dialética hegeliana de tese, antitese e síntese (sendo a síntese essa super igreja do futuro). [21]

O livro da CNBB sugere essa concepção evolutiva: «Mas ecumenismo é: .... colaborar com os irmãos de outras Igrejas em tudo o que ajuda o progresso do Projeto do Reino» [22]

No fundo, o que querem nos impingir é que as verdades e dogmas da Santa Religião, negadas pelos protestantes em todos os tempos, inclusive os de hoje, não podem ser obstáculo à essa união, à esse ecumenismo, que passa a ser o valor principal desse catolicismo deformado. Como fica claro por esse livreto da CNBB, todas as forças estão sendo empregadas para quebrar uma primeira barreira, que é a doutrina sobre a constituição divina da Igreja Católica, através dessa igualdade entre todas as Igrejas. Uma vez desferido esse golpe, uma vez relativizado o dogma, todo o resto ruirá. Qual resto? O que a CNBB lista como obstáculos ainda não levantados:

«- As relações entre a Bíblia e a Tradição como norma de Fé

- A Eucaristia

- O Sacramento da Ordem para o ministério de Diáconos, Presbíteros e bispos.

- O Magistério da Igreja, a autoridade do Papa e dos bispos em comunhão com ele.

- A relação dos cristãos com a Virgem Maria.» [23]

 

Mas a nota da Santidade da Igreja Católica é manifestada também por seus santos. É evidente que a declaração de santidade de uma pessoa, sua canonização, depende dela ser um modelo de vida e de união à Nosso Senhor. Como não pode haver Caridade sobrenatural se não houver Fé sobrenatural, só dentro da verdadeira Fé, ou seja, só dentro da Igreja Católica é que se pode encontrar verdadeiros santos. Por melhor que seja uma pessoa, por mais desapegada que seja de si mesma, por mais que viva exclusivamente pelo próximo, se não estiver ligada à vida sobrenatural pela verdadeira Fé, nenhum dos seus atos terá valor sobrenatural. A Doutrina Católica é unânime em ensinar que sem o Batismo (sem a Fé) ninguém pode alcançar o céu. Ora, para a Igreja Ecumênica, os hereges podem perfeitamente viver na graça santificante, ser movidos pelo Espírito Santo etc. Logo, vamos encontrar santos nas falsas religiões: o livro da CNBB cita a encíclica Ut  unum sint, de João Paulo II: «O testemunho corajoso de tantos mártires do nosso século, incluindo também membros de outras igrejas e comunidades eclesiais que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica, dá nova força ao apelo do Concílio...estes nossos irmãos e irmãs, irmanados na generosa oferta de suas vidas pelo Reino de Deus, são a prova mais significativa de que todo elemento de divisão pode ser vencido...» [24]...«Estes santos provêm de todas as Igrejas e comunidades eclesiais, que lhes abriram a entrada na comunhão da salvação» [25] E o livro comenta: «Dá para perceber? Santidade não é propriedade nossa. E é justamente porque temos santos dos dois lados que podemos ter mais esperança na superação das divisões...Está na hora de nos lembrarmos desses santos, incluindo os que não são da nossa Igreja, para louvarmos ao Senhor por suas vidas, na nossa catequese, nas homilias, etc».

Se não fosse trágico tudo isso, deveríamos rir diante de bispos que querem canonizar protestantes, os quais detestam os santos. Reparem a sutileza da última frase: nos lembrarmos desses santos para louvarmos ao Senhor por suas vidas... Seria realmente o cúmulo da agressão anti-ecumênica canonizar os protestantes e dizer que devemos rezar pedindo sua intercessão...

 

A NOTA DA CATOLICIDADE ENTRA NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO

 

Quanto à nota da Catolicidade, o que ocorreu no movimento ecumenista foi um atropelo e uma usurpação: como só a Igreja Católica, fundada por Jesus Cristo, tem a universalidade de tempo e de espaço, os bispos ecumênicos passaram a ensinar que mesmo os hereges e cismáticos pertencem à Igreja de Cristo e com isso já estariam inseridos dentro da catolicidade. Alargaram a noção de catolicidade, globalizaram a nossa religião, de tal forma que não há mais fronteiras entre a Rocha de Pedro e a areia movediça da heresia!

 

Na doutrina de sempre, quem é membro da Igreja?

 

Citemos antes de mais nada um documento da Igreja que fala por si só, dispensando comentários: frase condenada pelo Syllabus, de Pio IX, de 8/12/1864, proposição condenada nº 16: «Os homens podem encontrar no culto de qualquer religião o caminho da salvação eterna e alcançar a eterna salvação». Esta frase condenada por Pio IX é praticamente a mesma ensinada pelo novo Catecismo, como citamos acima: «Além disso, muitos elementos de santificação e de verdade existem fora dos limites visíveis da Igreja Católica: a palavra escrita de Deus, a vida da graça, a fé, a esperança e a caridade, e outros dons interiores do Espírito Santo e elementos visíveis. O Espírito de Cristo serve-se dessas igrejas e comunidades eclesiais como meios de salvação cuja força vem da plenitude de graça e de verdade que Cristo confiou à Igreja Católica. Todos esses bens provêm de Cristo e levam à Ele e impelem à unidade católica»[26]

 

Em seu livro de Iniciação Teológica, Vol 1, O Mistério da Igreja [27], o Pe. Penido analisa com clareza e sem falsos escrúpulos, a situação dos protestantes e demais hereges e apóstatas, no que toca sua pertinência à Igreja Católica:

 

«O pagão, nenhum vínculo o prende à Igreja; ao passo que os outros [hereges, cismáticos, apóstatas e excomungados] liga-os ainda à ela, um laço mais ou menos tênue. Falece-lhe força a este laço para mante-los dentro da Igreja, mas basta todavia para diferencia-los dos simples estranhos [os pagãos e infiéis]. Embora não sejam mais membros atuais, são ainda súditos da Igreja: permanece sempre um vínculo jurídico. Permanece, ademais, um laço sobrenatural que talvez lhes valha graças de conversão. No apóstata e no herege, será o caráter batismal, que outrora os consagrou à Cristo e que nada e ninguém pode apagar. Ora, o caráter sacramental é uma disposição que normalmente chama a graça, embora no caso seja sobrepujada pela vontade perversa.

E mais adiante:

Sob o influxo do indiferentismo religioso, generalizou-se a opinião de que todas as religiões são boas, e tanto faz ser budista ou muçulmano, judeu ou protestante, ortodoxo ou católico. Erro esse compendiado  por Pio IX, em quatro proposições do Syllabus, em 8 de dezembro de 1864. A última dessas sentenças (condenadas) errôneas reza: “O protestantismo não é senão forma diversa da mesma e verdadeira religião cristã, no qual se pode agradar a Deus tanto quanto no seio da Igreja Católica.

 

Pe. Penido continua mostrando que a tendência de certos autores daquela época (1952) de considerarem as igrejas protestantes ou ortodoxas como inseridas dentro da Igreja Católica não tinha fundamento na doutrina católica. O que a Igreja ensina é que, individualmente, os hereges de boa fé pertencem de modo invisível à Igreja. Mas não as religiões heréticas. Essas continuam sendo falsas e erradas, sem o menor vínculo com a Igreja de Cristo e sem a menor condição  de levar seus adeptos à salvação. E se encontramos algum elemento certo numa religião diferente, este elemento não pertence à essa falsa Igreja, mas sim à Igreja Católica, única que recebeu de Jesus Cristo e do Divino Espírito Santo a totalidade da Verdade: «Quando vier porém aquele Espírito de Verdade, ele vos ensinará toda a Verdade»[28].

 

*

 

Nós acabamos de ver como o mais alto escalão do Vaticano destruiu as quatro notas essenciais da Igreja Católica, estabelecendo uma nova Igreja Ecumênica:

A nota da Unidade é destruída - usei este termo porque a unidade da Fé é um edifício orgânico, divino, construído com o fundamento da Fé e as colunas da Verdade e da Caridade. E o ecumenismo dilapidou a Unidade.

A nota da Santidade é diluída - usei este termo porque a Santidade da Igreja é como uma substância forte e salutar, que impregna todos os membros e atividades santas da Igreja. Esta santidade, espalhada entre as falsas religiões, foi diluída e perdeu sua força.

A nota da Apostolicidade é rejeitada - usei este termo para significar o filho que rejeita sua herança, a casa e a linhagem de seu Pai. Os bastardos são hoje chamados de pastores.

A nota da Catolicidade é globalizada - usei este termo da moda para mostrar que a universalidade da Igreja rompeu as fronteiras da Fé, sendo atribuída às falsas religiões.

 

Com esta total destruição da essência do Catolicismo, fica até lógico que o Papa João Paulo II exija dos católicos essa adesão irrestrita ao ecumenismo. Vejam como se estabelece a falsa lógica deles:

Se os ortodoxos, protestantes etc. recebem o Batismo válido, logo eles têm fé.

Se os ortodoxos, protestantes etc. têm fé, logo são nossos irmãos e devemos obedecer à Cristo que disse que devemos ser um.

Se os ortodoxos e protestantes são nossos irmãos e não temos essa unidade, é porque ficamos de guerrinha e picuinhas  de orgulho por causa de bobagem. Logo, devemos ser ecumênicos!

Onde está o erro? Ei-lo: os ortodoxos e protestantes não têm fé. Como eu provo isso? Mostrando o que é a Fé:  a Fé é um dom de Deus que nos leva a uma adesão da nossa inteligência ao Depósito Revelado, ou seja, crer em tudo o que Deus nos revelou e a Igreja ensina. Se o Batismo de uma seita protestante é válido, como já vimos, essa fé que ele recebe é a fé católica (se a fé é um dom de Deus, nunca poderá existir uma fé do erro!) Quando esse batizado protestante emitir um ato de fé errado, (por ex.: eu creio que a Eucaristia é apenas um símbolo de Cristo) imediatamente ele perde a fé, ele comete um pecado contra a fé. Logo, toda sua vida religiosa dentro da heresia vai ser sem fé.

E isso é confirmado pelos mais solenes documentos da Igreja Católica:

 

O ECUMENISMO É CONDENADO PELA IGREJA CATÓLICA

 

Em 6 de Janeiro de 1928 o Papa Pio XI publicou a Encíclica Mortalium Animos. Este texto oficial da Igreja não é uma longa dissertação teórica, mas um documento conciso, rápido, vigoroso, de uma límpida clareza, sobre a Igreja Católica diante das outras religiões ditas cristãs, todo ele impregnado de um santo zelo pelas almas, de uma paternal solicitude em proteger os católicos dos erros difundidos do falso ecumenismo. Não há alma católica que leia estas páginas sem sentir vibrar o coração de amor pela Santa Madre Igreja, de desejo de repudiar todo erro que ameaça a nossa Fé, de buscar outros ensinamentos santos e decisivos que alimentam a Fé e fazem crescer a Caridade em nossos corações. A íntegra desse texto pode ser encontrada em www.capela.org.br/magisterio.htm  ou na Revista Permanência, nº 210-211, de Maio-Junho de 1986. Dentro do contexto do nosso trabalho, transcreveremos as passagens que mostram claramente o quanto a orientação e os mandamentos da Igreja moderna e ecumênica estão em total oposição ao que a Igreja ensinou até às vésperas de Vaticano II.

 

Encíclica Ut Unum Sint - João Paulo II

Encíclica Mortalium Animos - Pio XI

(os discípulos do Senhor) são convidados pela força sempre jovem do Evangelho a reconhecerem juntos, com sincera e total objetividade, os erros cometidos e os fatores contingentes que estiveram na origem de suas deploráveis separações.  Nº 2

A Igreja Católica reconhece e confessa as fraquezas de seus filhos.  Nº 3

Ai! Os filhos afastaram-se da casa paterna; todavia ela não foi feita em pedaços e nem foi destruída por isso, uma vez que estava arrimada na perene proteção de Deus. Retornem pois, eles, ao Pai comum que, esquecido das injúrias antes gravadas à fogo contra a Sé apostólica, recebe-los-á com o máximo amor. Nº 64

Como é possível permanecer divididos se, pelo Batismo fomos imersos na morte do Senhor...? A divisão contradiz abertamente a vontade de Cristo, e é escândalo para o mundo, como também prejudica a santíssima causa da pregação do Evangelho à toda criatura.   Nº 6

Comentário da CNBB:

O texto de Jo, 17, 20-23, traz um questionamento fundamental para todas as igrejas cristãs. Os cristãos precisam estar unidos, diz Jesus, para que o mundo creia. De fato, foi percebendo isso que nasceu, no meio dos missionários protestantes, o movimento ecumênico.

Nossa Igreja entrou depois no movimento ecumênico, e hoje pede aos católicos do mundo inteiro que ajudem a mudar esta história triste, que oferece ao mundo, o espetáculo dos cristãos que se desconhecem, que se enfrentam, em vez de se apresentarem claramente como irmãos que se respeitam e se querem bem. (Comentário pag. 13-14)

Entretanto, quando se trata de promover a unidade entre todos os cristãos, alguns são enganados mais facilmente por uma certa disfarçada aparência do que seja reto.

Acaso não é justo e de acordo com o dever - costumam repetir à miude - que todos os que invocam o nome de Cristo, abstenham-se de recriminações mútuas, e sejam finalmente unidos por mútua Caridade?

Acaso alguém ousaria afirmar que ama a Cristo se, na medida de suas forças não procura realizar as coisas que Ele desejou, Ele que rogou ao Pai para que os seus discípulos fossem “um” (Jo.17,21)? Acaso não quis o mesmo Cristo que seus discípulos fossem identificados por este como que sinal e fossem por ele distinguidos dos demais, a saber, se mutuamente se amassem: “Todos conhecerão que sois meus discípulos nisto: se tiverdes amor um pelo outro”? (Jo. 13,35)

Na verdade, sob os atrativos e os afagos destas palavras, oculta-se um gravíssimo erro, pelo qual são totalmente destruídos os fundamentos da fé. Nº 8 a 11

Advertidos pois, pela consciência do dever apostólico, para que não permitamos que o rebanho do Senhor seja envolvido pela novidade dessas falácias, convocamos, Veneráveis irmãos, o vosso empenho, na precaução contra este mal. Nº 15-16

 

Temos uma certa comunhão, embora imperfeita, com outras Igrejas, porque há elementos de santificação e de verdade presentes nelas.  (Comentário, pag. 41)

 

As Igrejas e comunidades  separadas, embora creiamos que tenham defeitos, de forma alguma estão despojadas de sentido e de significação no mistério da salvação, pois o Espírito de Cristo não recusa servir-se delas como meios de salvação cuja virtude deriva da própria plenitude de graça e verdade confiada à Igreja Católica  Nº 10

Acreditamos pois que os que afirmam serem cristãos não possam faze-lo sem crer que uma certa Igreja, e uma só, foi fundada por Cristo. Mas, se se indaga além disso, qual deva ser ela pela vontade do seu autor, já não estão todos em consenso. Assim, p. ex., bem muitos destes negam a necessidade da Igreja de Cristo ser visível e perceptível, pelo menos na medida em que deva aparecer como um corpo único de fiéis, concorde em uma só e mesma doutrina, sob um só Magistério e um só regime. Mas, pelo contrário, julgam que a Igreja perceptível e visível é uma Federação de várias comunidades cristãs, embora aderente, cada uma delas, a doutrinas opostas entre si. (nº 21-22)

 

 

Justificados no Batismo pela Fé, (os membros das comunidades cristãs não-católicas) são incorporados à Cristo, e por isso, com direito se honram com o nome de cristãos e são justamente reconhecidos pelos filhos da Igreja Católica como irmãos no Senhor. Nº13 Também não poucas ações sagradas da religião cristã são celebradas entre os nossos irmãos separados. Por vários modos, conforme a condição de cada Igreja ou comunidade, estas ações podem realmente produzir a vida da graça...  Nº 13

Por isto costumam realizar por si mesmos convenções, assembléias e pregações, com não medíocre freqüência de ouvintes, e para elas convocam, para debates, promiscua­mente a todos: pagãos de todas as espécies, fiéis de Cristo, os que infelizmente se afastaram de Cristo e os que obstinada e pertinazmente contradizem à sua natureza divina e a seu legado.

Sem dúvida esses esforços não podem, de nenhum modo, ser aprovados pelos católicos, pois eles se fundamentam na falsa opinião dos que julgam que quaisquer religiões são mais ou menos boas e louváveis...

Erram e estão enganados, portanto os que possuem esta opinião: pervertendo o conceito da verdadeira religião, eles repudiam-na e gradualmente inclinam-se para o chamado Naturalismo e para o Ateísmo. Daí segue-se claramente que quem concorda com os que pensam e empreendem tais coisas, afasta-se inteiramente da Religião divinamente revelada. Nº 5,6 e 7

Os não-católicos não são todos falsos cristãos, nem as suas comunidades deixam de merecer o nome de Igreja. Lá Deus também se manifesta, de muitas formas a única Igreja de Cristo está presente lá.  (Comentário, pag.42)

Portanto, dado que o Corpo Místico de Cristo, isto é, a Igreja, é um só (1Cor.12,12), compacto e conexo (Ef.4,15), à semelhança do seu corpo físico, seria ineptia e estultice afirmar alguém que ele pode constar de membros desunidos e separados: quem pois não estiver unido com ele não é membro seu nem está unido à cabeça, Cristo. (cf. Ef. 5,30; 1,22)

Não somos proprietários exclusivos da graça.

(Comentário, pag. 42)

Escutem a Lactâncio (Div. Inst. 4,30) clamando amiúde: «Só...a Igreja Católica é a que retém o verdadeiro culto. Aqui está a fonte da verdade, este é o domicílio da Fé, este é o Templo de Deus: se algum não entrar por ele ou se alguém dele sair, está fora da esperança da vida e salvação. Nº 66

O ecumenismo, o movimento à favor da unidade dos cristãos, não é só uma espécie de apêndice, que se vem juntar à atividade tradicional da Igreja. Pelo contrário, pertence organicamente à sua vida e sua ação, devendo permeá-la no seu todo. Nº 20

Ninguém ignora que o próprio João vetou inteiramente até mesmo manter relações com os que professavam de forma não íntegra e incorrupta a doutrina de Cristo: “se alguém vem a vós e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem digais a ele uma saudação” (2Jo,X). Pelo que, como a Caridade se apóia na Fé íntegra e sincera, como que em um fundamento, então é necessário unir os discípulos de Cristo pela unidade de Fé como no vínculo principal. Nº 47-48

 

Se os cristãos, apesar das suas divisões, souberem unir-se cada vez mais em oração comum ao redor de Cristo, crescerá sua consciência de como é reduzido o que os divide, em comparação com aquilo que os une.  Nº 22

Assim sendo, é manifestamente claro que a Santa Sé, não pode, de modo algum, participar de suas assembléias e que, aos católicos, de nenhum modo é lícito aprovar ou contribuir para estas iniciativas: se o fizerem, concederão autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo. Nº 38

É motivo de alegria lembrar que os ministros católicos podem, em determinados casos particulares, administrar os sacramentos da Eucaristia, da Penitência, da Unção dos Enfermos a outros cristãos que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica, mas que desejam ardentemente recebe-los, os pedem livremente e manifestam a fé que a Igreja Católica professa nesses sacramentos. Reciprocamente, em determinados casos e  para circunstâncias particulares, os católicos podem recorrer, para os mesmos sacramentos, aos ministros daquelas Igrejas onde eles são válidos. Nº 46

E de que modo pedimos que participem de um só e mesmo Conselho homens que se distanciam por sentenças contrárias como (...) os que adoram Cristo realmente presente na Santíssima Eucaristia, por aquela admirável conversão do pão e do vinho que se chama transubstanciação, e os que afirmam que somente pela fé ou por símbolo e em virtude do sacramento aí está presente o corpo de Cristo?

Como os que reconhecem nela [na Eucaristia] a natureza do sacrifício e a natureza do sacramento, e os que dizem que ela não é senão a memória ou comemoração da ceia do Senhor? Nº 50

 

 

Nós, enquanto Igreja Católica, estamos conscientes de ter recebido muito do testemunho, da procura, e até mesmo da maneira como foram sublinhados e vividos pelas outras Igrejas e comunidades eclesiais, certos bens cristãos comuns. Nº 87

Ocorre-nos dever esclarecer e  afastar aqui uma certa opinião falsa da qual parece depender toda esta questão: (...) que a Igreja é, por si  mesma, por natureza, dividida em parte, isto é, que ela consta de muitas igrejas, as quais ainda separadas, embora possuam alguns capítulos comuns de doutrina, discordam todavia nos demais. Que cada uma delas possui os mesmos direitos.

Assim sendo, é manifestamente claro que a Santa Sé, não pode, de modo algum, participar de suas assembléias e que, aos católicos, de nenhum modo é lícito aprovar ou contribuir para esta iniciativas: se o fizerem concederão autoridade a uma falsa religião cristã, sobremaneira alheia à única Igreja de Cristo. Nº 27, 30, 38

Estou  convicto de ter a este propósito [o exercício do Primado de Pedro] uma responsabilidade particular, sobretudo quando constato a aspiração ecumênica da maior parte das comunidades cristãs, e quando ouço a solicitação que me é dirigida para encontrar uma forma do exercício do primado que, sem renunciar de modo algum ao que é essencial de sua missão, se abra uma situação nova...  Nº 95

Por isto, todos os que são verdadeiramente de Cristo consagram, por exemplo, ao Mistério da Augusta Trindade a mesma fé que possuem em relação ao Dogma da Mãe de Deus concebida sem a mancha original, e não possuem igualmente uma fé diferente com relação à Encarnação do Senhor e ao Magistério Infalível do Pontífice Romano, no sentido definido pelo Concílio Ecumênico do Vaticano (primeiro, 1870). Nº 53

 

A NOVA RELIGIÃO ECUMENICA:

 

Eles dizem: não queremos a linguagem e as verdades de antigamente: «Celebrar Cristo [sic] e seu jubileu não é simplesmente repetir a compreensão de Cristo que outros tiveram no passado ou expressar a fé em Cristo unicamente com as fórmulas de ontem»[29]

Tudo o que acabamos de ver nos mostra a gravidade da situação. A guerra vai a todo vapor, e nós não nos damos bem conta disso. Achamos que eles ainda são católicos, que o Papa é “conservador”, etc.

Prestem atenção: a heresia atual segue uma linha diferente de todas as outras heresias. Ela partiu de uma praxis, de uma vivência nova da religião Católica, introduzida no mundo inteiro com Vaticano II, que introduziu uma série de práticas novas: Missa nova, Catecismo novo, Bíblia ecumênica nova, rituais dos sacramentos, Código de Direito Canônico. Durante vinte anos, era proibido discutir teoricamente essas modificações. Toda a vida católica tradicional foi destruída a golpes de picareta. Nos anos 70 os padres e bispos pareciam loucos enfurecidos.

Enquanto isso, a linguagem ia sendo modificada, imperceptivelmente. A palavra mudou de significado, sem que os católicos se dessem conta. O mesmo para os termos que citei no início: evangelização, testemunho, serviço, Cristo, Igreja, etc.

Hoje, a alma dos fiéis já está maculada, modificada, visceralmente envenenada por essa linguagem protestante, covardemente escondida na ambigüidade dos termos. Não somente eles já rezam, assistem à Missa, falam como protestantes (bíblia, Cristo salva, amor, etc.) mas já pensam como tal. Era, então hora, dos chefes estabelecerem um Código de doutrina, uma teoria. Não haveria mais o perigo da reação dos católicos, como sempre aconteceu ao longo da história. Eles estão hipnotizados, robotizados, globalizados. É o fim! Não há exagero, não há uma vírgula inventada, ou nascida da minha cabeça. Tudo está dito por eles.

Mas, atenção: nem tudo está realizado! Eles continuam trabalhando com os mesmos métodos.

 

O Papa assinala na sua encíclica alguns obstáculos que precisam ainda ser vencidos. São cinco:

- As relações entre a Bíblia e a Tradição como norma da Fé

- A Eucaristia

- O Sacramento da Ordem

- A autoridade do Papa, o Magistério da Igreja

- A relação dos cristãos com a Virgem Maria.

 

Nas realizações práticas, eles já foram há muito superados. Ou será ilusão nossa o abandono total da Tradição como norma da fé? Não falam eles da bíblia como Lutero falava? Sola Scriptura!

Hoje eles voltam a falar em Tradição, mas uma Tradição viva, ou seja, evolutiva.

E Nossa Senhora, não foi completamente abandonada até poucos anos atrás? O Terço não foi jogado fora, considerado como piedade ultrapassada? E quantos cartazes nós vimos nas portas das igrejas, dizendo que Maria era uma mulher como outra qualquer?

Hoje eles voltam a falar em Nossa Senhora, mas como testemunho, serviço, conversão. Leiam o que os santos disseram de Nossa Senhora, um São Bernardo, São Luiz Grignon de Monfort, e verão a diferença. Chega a dar vergonha, a maneira como falam da nossa Mãe Santíssima.

Mas os outros três obstáculos já estão em plena fase de protestantização. São os obstáculos ligados ao Sacramento da Ordem: a Eucaristia, o Sacerdócio e o Papado. A presença real de Jesus na hóstia consagrada, realizada pelo sacerdote e só por ele; o poder sacerdotal, recebido na ordenação, que confere ao padre o poder de celebrar a Santa Missa, de consagrar a Sagrada Hóstia, de abençoar, de pregar; e o poder supremo do Vigário de Cristo, definido como dogma no 1º Concílio do Vaticano, em 1870.

Ora, a linguagem empregada hoje para tratar do padre, do bispo, do Papa, fala sempre desse serviço, função, anúncio, etc. Eles estão preparando as almas, com doses homeopáticas, para que os fiéis, como carneirinhos, percam as noções básicas do catolicismo sobre o sacerdócio e sobre o poder Papal, como perderam sobre a Fé e a Igreja. As hóstias consagradas já não são objeto de adoração, são postas nas mãos, vendidas para missas negras, recolocadas nas caixas junto às hóstias não consagradas, etc. Na prática, os padres já vivem como os pastores, sem batina, forçando cada vez mais a quebra do celibato, de vida mundana. Homens casados já são ordenados diáconos. Um pastor protestante foi ordenado padre sem renunciar ao protestantismo. Na prática, o Papa se iguala aos chefes das falsas igrejas, trata com eles de igual para igual. Considera as orações desses homens de mesmo valor das suas. Considera que os santos que ele canoniza vivem em comunhão com “santos” das outras igrejas. E vão falando de serviço, e vão falando de evangelização (escondendo a realidade que é a apostasia de uma evangelização feita pelos Apóstolos e levada a termo pela Igreja).

De modo que, em pouco tempo, eles estarão escrevendo encíclicas sobre o culto comum entre católicos e protestantes, entre católicos e ortodoxos (já existem acordos nesse sentido).

O que devemos fazer?

«No nosso lugar e na medida das nossas forças, devemos procurar preservar e transmitir a fé e a caridade da Igreja.

Para esta transmissão da fé, é necessário denunciar tudo que pode corrompe-la.

Para preservar a Caridade é preciso que os católicos sejam fervorosos na sua vida espiritual, vivendo habitualmente na graça santificante de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Tendo trabalhado assim, não devemos achar que poderemos consertar a situação da Igreja, enquanto as autoridades continuarem em seus sonhos ecumênicos suicidas».[30]

 

Nossa convicção de católico, nossa Fé integral em tudo o que nos ensina a Santa Madre Igreja há dois mil anos, essa Caridade, que é o amor de Deus soprando e aquecendo nossos corações deve iluminar decididamente nossas almas: o que eles estão fazendo é a destruição pura e simples de tudo o que é Católico. Uma nova religião do dogma ecumênico, uma religião mundialista e filantrópica. Nossa atitude só pode ser uma, ditada por São João, na sua 2ª epístola: não receber em sua casa (em sua alma), não saudar na rua. Pela Fé católica, pela verdade de Deus, transmitida pela Igreja, devemos antes morrer que vê-la esvaziar-se na ambiguidade protestante e modernista. É esse o exemplo deixado por Jesus Cristo, pelos Apóstolos, pelos mártires, por todos os santos do Paraíso. Com eles sim, estamos unidos, pois viveram e morreram pela Verdade de Deus, pelo nome Católico. Com Moisés, sim, mas com o Moisés que apareceu ao lado de Jesus, no dia da Transfiguração, servo e amigo de Cristo, e não com um Moisés símbolo de um judaismo que recusou o Messias e o entregou à morte. O Sinai passou, o Sinai não é lugar santo do Cristianismo. Nosso Sinai é Roma, são as sete colinas da Cidade Santa, que um dia ainda brilhará como Sede da Verdade.

 

 

Niterói, 6 de agosto de 1998

Festa da Transfiguração de Nosso Senhor.


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[1] O tema da conversão ao ecumenismo aparece 13 vezes  em 63 páginas.

[2] Seis vezes é dito explicitamente que o ecumenismo é obrigatório, sem contar as passagens onde isso aparece no contexto.

[3] Catecismo de São Pio X, Parte 1, Do Símbolo dos Ap., 9º artigo, questão 154 .

[4] Pag. 12-13

[5] pag. 13

[6] São Lucas, 12, 51-53

[7] São João Crisóstomo, homilia 78 sobre S. Mateus

[8] Catecismo de S. Pio X, Parte 1, Do Símbolo dos Apóstolos, nº 155-156

[9] Pag. 13

[10] Pio XI, encíclica Mortalium Animos, nº 47-48

[11] Pag. 13

[12] Pag. 14

[13] Ut unum sint, nº13

[14] São Marcos, 16,15

[15] Pag. 42

[16] Catecismo Romano, Ed. Vozes, Petrópolis, 1962, Parte 1, Do Símbolo dos Apóstolos, Cap. 10, 9º artigo, pag. 149-150.

[17] II Tim.4, 3-4

[18] Rom. 10,15

[19] Pag. 41

[20] (Novo) Catecismo da Igreja Católica, Vozes etc. 1993, A Profissão da Fé, art. 9, pag. 201.

[21] Cf. SimSimNãoNão, nº14, Fev. 1994, art. Urs von Balthasar, o Pai da Apostasia Ecumênica

[22] Pag. 15

[23] Pag. 53

[24] Ut unum sint, nº 1

[25] Ut unum sint, nº 84

[26] (Novo) Catecismo da Igreja Católica, Vozes etc. 1993, A Profissão da Fé, art. 9, pag. 201.

[27] Ed. Vozes, Petrópolis, 1952

[28] São João, 16,13

[29] Rumo Ao Novo Milênio, CNBB, Ed Paulinas, 1996, pag.10

[30] Revista Le Sel de la Terre, dos dominicanos franceses de Avrillé, nº24, editorial.