Texto integral do comunicado de D. Lefebvre

Dificilmente se compreende a interrupção das conversações se estas não estão colocadas em seu contexto histórico.

Apesar de nunca termos querido romper com a Roma Conciliar; mesmo depois da primeira visita a Roma, em 11 de novembro de 1974, que foi seguida de medidas sectárias e nulas - o fechamento da obra em 6 de maio de 1975 e a «suspensão», em julho de 1976, estas relações só podiam transcorrer em um clima de desconfiança. Louis Veuillot diz que não há ninguém mais sectário do que um liberal; com efeito, comprometido com o erro e a Revolução, o liberal se sente condenado por aqueles que permanecem na Verdade e é por isso que, se possui o poder, persegue a estes encarniçadamente. É o nosso caso e de todos aqueles que se opõem aos textos liberais e às Reformas liberais do Concílio.

Querem por tudo que tenhamos um complexo de culpa em relação a eles quando são eles que são culpados de duplicidade.

Foi pois, em um clima de tensão, se bem que polido, que as relações transcorreram com o Cardeal Seper e o Cardeal Ratzinger entre os anos de 76 e de 87, mas também com alguma esperança de que, a auto-demolição da Igreja se acelerando, acabassem por nos olhar com benevolência.

Até então, para Roma, a finalidade dessas relações era de nos fazer aceitar o Concílio e as Reformas e de nos fazer reconhecer nosso erro. A lógica dos acontecimentos devia me levar a pedir um sucessor ou mesmo dois ou três para assegurar as ordenações e confirmações. Diante da recusa persistente de Roma, a 29 de junho de 1987 anunciei minha decisão de sagrar Bispos.

A 28 de julho, o Cardeal Ratzinger abriu novos horizontes que podiam legitimamente dar a impressão de que, enfim, Roma nos olhava com um olhar mais favorável. Não pediam mais que assinasse um documento doutrinal, nem pedido de perdão, porém um visitador era enfim anunciado, a sociedade poderia ser reconhecida, a Liturgia seria a de antes do Concílio, os seminaristas permaneceriam com o mesmo espírito...

Aceitamos então encetar este novo diálogo, mas com a condição de que nossa identidade fosse bem protegida contra as influências liberais, por Bispos formados na Tradição e por uma maioria de membros na Comissão Romana para a Tradição. Ora depois da visita do Cardeal Gagnon, da qual nunca soubemos nada, as decepções se acumularam.

As conversações que se seguiram, de abril a maio, nos decepcionaram bastante. Puseram-nos diante de um texto doutrinal: acrescentaram o novo Código de Direito Canônico; Roma reserva para si 5 dos 7 membros da Comissão Romana, inclusive o presidente (que seria o Cardeal Ratzinger) e o Vice-Presidente.

A questão do Bispo foi solucionada com dificuldade: insistiam em nos mostrar que não tínhamos necessidade dele.

O Cardeal nos notificou que era preciso deixar celebrar uma missa nova em S. Nicolas-du-Chardonet. Insistia sobre a única Igreja, a Igreja do Vaticano II.

Apesar das decepções assinei o protocolo de 5 de maio, Mas a data da consagração episcopal já era um problema. Depois um projeto de pedido de perdão ao Papa me foi posto entre as mãos.

Fui obrigado a escrever uma carta ameaçando fazer as sagrações episcopais para chegar a ter a data de 15 de agosto para ela.

O clima não era mais o de uma colaboração fraterna e um puro e simples reconhecimento da Fraternidade. Para Roma, a finalidade das conversações era a reconciliação, como disse o Cardeal Gagnon, numa entrevista dada ao jornal italiano «L'Avvennire, quer dizer, a volta da ovelha desgarrada para o aprisco. É isto que exprimo na carta ao Papa de 2 de junho: a finalidade das conversações não é o mesmo para vós e para nós.

E quando pensamos na história das relações de Roma com os tradicionalistas, de 1965 a nossos dias, somos obrigados a constatar que é uma perseguição sem descanso e cruel, para nos obrigar à submissão ao Concílio. - O último exemplo em data é o do Seminário «Mater Ecclesiae» dos saídos de Ecône, que em menos de dois anos foram enquadrados na Revolução conciliar, contrariamente a todas as promessas!

[nota de D. Lourenço: E assim continua: a própria Fraternidade São Pedro, dissidente de Ecône, está nesse momento sendo dilacerada e engolida pelo Vaticano modernista. Veja na Terceira Parte deste trabalho]

A Roma atual, conciliar e modernista, não poderá jamais tolerar a existência de um vigoroso ramo da Igreja católica que a condena por sua vitalidade.

É preciso esperar ainda alguns anos, sem dúvida, para que Roma reencontre sua Tradição bi-milenar. Nós continuaremos a provar, com a graça de Deus, que esta Tradição é a única fonte de santificação e de salvação para as almas, e a única possibilidade de renovação para a Igreja.

Ecône, 19 de junho de 1988.

Marcel Lefebvre