Não à Rede Globo

Dom Lourenço Fleichman OSB

Algumas pessoas me telefonaram esta semana perguntando o que eu achava do seriado sobre Jesus Cristo que a Rede Globo de televisão passa nestes dias, com a proximidade do Natal. Por diversas razões não verei e não recomendo que vejam!

Vamos lá!

Antes de mais nada, a Rede Globo, assim como todas as suas companheiras da chamada "informação" (na realidade são os promotores da des-informação e da de-formação) é responsável direta pela destruição dos costumes, da moralidade, da verdade, e do simples bom-senso. Se a nossa sociedade é hoje um amontoado de papagaios repetindo slogans e copiando atitudes imorais, em parte é porque vivem grudados na televisão. Esta verdade constatável cientificamente é, para mim, suficiente para me afastar do uso habitual deste aparelho. Poderíamos acrescentar a isso o fato, ensinado por psicólogos do mundo inteiro, de que o vício da televisão, antes de corromper os costumes, rói por dentro as capacidades humanas de conhecimento e de força de vontade, através da atitude passiva em que deixa a vítima. A pessoa posta diante da tela abre sua mente para o que será dito e mostrado, sem querer usar os critérios da Verdade e do Bem; relaxa as forças de reflexão justamente porque chegou cansada do trabalho e precisa divertir-se. Se tomasse um livro para ler, isso a obrigaria a refletir, a pensar, a raciocinar e a tomar decisões. Ela está cansada demais para isso... ela tem direito ao descanso.... ela é escrava deliberadamente sem nem perceber.

Peço licença ao genial criador do Calvin, aquele menino travesso das tirinhas, para reproduzir aqui uma de suas tiras, pois ela descreve brilhantemente isto que acabo de dizer:

Mas vamos adiante. Nós sabemos que a Rede Globo não prima por uma alta espiritualidade. Ela, como todas as grandes empresas do mundo, estão muito preocupadas com o sucesso financeiro e ideológico de seus empreendimentos. Nunca na vida seus chefes se dedicariam a uma realidade que não lhes trouxesse dinheiro. Muito dinheiro. Mas não é muito dinheiro como seria para mim e para vocês. É muito dinheiro como costuma ser  para orçamentos de países inteiros. Esse é o dinheiro e o poder que lhes interessa. E eles são capazes de transformar pedras em ouro. Como assim? Eu respondo: o que havia, até bem pouco tempo, de mais desprezível aos olhos dessa gente da televisão, do que um desses padres progressistas, envergonhado de carregar sua Cruz, de vestir sua batina surrada, de falar da vida eterna e do caminho de salvação? Alguém lá de dentro toma um desses padres mais esperto e transforma num sucesso de mídia, num padre Marcelo. De repente chove esta nova elite, esta nova classe de gente cheia de coisas para mostrar na televisão. Porque? Devido a um grande interesse espiritual do Faustão ou da Xuxa? Nunca! O Pe. Marcelo foi produzido para dar muito dinheiro aos que o levantaram ao topo da mídia. E deu.

O que quero dizer com isso é que a Rede Globo nunca se interessaria em passar um seriado sobre Jesus Cristo se não fosse para lhe trazer muito e muito dinheiro. O resto, a boa dona de casa que se emocionará diante de um Cristo que ela acha que é o verdadeiro, isso para eles é inteiramente desprezível. Eles estão longe de se preocupar com a fé do povo. Ao contrário, eles usam a fé do povo para alcançar seus intentos ambiciosos. Então vamos nós ligar a televisão e dar mais dinheiro a eles, em nome do nosso Salvador? Jesus servindo ao diabo e com nossa colaboração?

Mas estas considerações não formam ainda a razão mais importante de não vermos esta novela de luxo. Quando vemos representado num teatro as cenas da vida de Cristo, recebemos uma certa gama de sentimentos que nos emocionam, até mesmo porque acredito piamente na qualidade técnica do que são capazes. Mas não é essa a atitude do crente. Quando abrimos o Evangelho e lemos, como católicos, o que Deus nos revelou, estamos na realidade fazendo uma forma de oração, de contemplação, onde o que conta não é, de modo algum, a emoção. O que conta é a fé, ou seja, a certeza que temos de que aquilo é a pura e infalível verdade, a certeza que temos de que aquela verdade é para nós fonte de salvação, que, por meio da fé nela, podemos esperar o céu, como recompensa dos nossos atos bons. Todos estes filmes, por mais bem feitos que sejam, deturpam a atitude do crente, obrigando-o a considerar um Cristo sem oração, sem a visão sobrenatural que nos é exigida pela fé.

Essa visão naturalista das realidades reveladas por Deus nas Escrituras viciam a alma do católico, apesar de não ser isso muito claro para ele sem alguma orientação. Depois ele não entende porque sente tanta dificuldade em rezar, em criar um pouco de silêncio e reflexão em sua vida, de lutar contra as tentações. Uma coisa está ligada à outra.

Todos os filmes produzidos por Hollywood com temas religiosos pecam por este lado, antes de serem uma traição à verdade histórica e religiosa. Ben Hur, por exemplo,  é um filme bonito, cheio de respeito pela verdade revelada, mas nos move pelo sentimento mais do que pela fé. Assim para tantos outros.

Vocês poderiam objetar que isso não chega a tornar um filme ruim. Creio que, para um católico praticante, e é para eles que escrevo, o que conta é ter sua vida adequada à busca constante de Deus, do seu amor, dos seus mandamentos; em suma: agradar a Deus em tudo. E sob este aspecto, estes filmes são ruins e fazem mal à alma.

Mas eu estou dizendo isso não tanto para os bons filmes religiosos, pois são toleráveis. Estou falando sobre um filme que não vi e não quero ver. Acho muito difícil que seja um bom filme sobre Cristo. A moda pede um Cristo mais alegre, mais moderno, ecumênico; e para ganhar dinheiro, muito dinheiro, eles não vão mostrar um Cristo "conservador". Para ganhar muito dinheiro, os atores serão famosos e nós sabemos que praticamente todos eles  fazem filmes imorais. Um dia estarão nus na tela, numa cena de sexo, para alguns meses depois estarem vestidos de Jesus e de Maria Santíssima! Com que valor moral podem eles representar o Deus encarnado. Quanta ousadia e pretensão, para uma mulher que se vende como objeto de sedução, representar a Puríssima Virgem Mãe de Deus. Estarão lá, as boas donas de casa emocionando-se com o rosto singelo de uma ótima atriz que há pouco posava numa revista para homens, ou quem sabe, assume uma "opção" sexual pervertida.

Toca o telefone e uma pobre alma desabafa do outro lado: «Sacrilégio! Corruptos!» Parece que o tal filme sobre Jesus Cristo deturpa completamente a história, insinua um "caso" entre Jesus e Santa Maria Madalena, e ainda coisas piores. E eu pergunto: eu precisava ver o tal filme para saber que ele é ruim, muito ruim e um ataque contra a Majestade Divina?  O meu Justo vive de Fé, diz Nosso Senhor. E os critérios que apresentei acima mostram que devemos fugir das enganações deste século corrupto que deseja a nossa queda. Este filme, como tantos outros que enchem as salas arrancam a fé do nosso coração.

Nossa Senhora da Conceição, rogai por nós.

Na primeira semana do Advento do ano 2000

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