Brasil 500 anos Arte Barroca

Niterói, 11 de janeiro de 2001

Senhores Curadores,

Acabo de sair da exposição. Sou um monge beneditino e por isso, muito ligado na mensagem espiritual do que vejo e vivo. Por isso resolvi escrever-lhes.

Ao longo da visita somos levados a ver esculturas tão maravilhosas e tão unidas espiritualmente umas às outras, porém ao som de um sincretismo religioso que não serviu para outra coisa senão criar uma sensação de desligamento com as obras vistas. Estas, foram realizadas por artistas que viviam uma espiritualidade una, voltada para um culto uno, iluminado por uma doutrina também una.

A música, ao misturar canto gregoriano com candomblé, barroco brasileiro com batuque de terreiro, desfigurou o que de melhor havia na mostra e o que de melhor se fez nesse Brasil.

Era empurrado a sair; não tinha nem ambiente nem vontade de ficar, de olhar, de contemplar.

E na sala final apareceu então, uma intenção nessa mistura, que me chocou: o catolicismo do Barroco Brasileiro teria, no pensamento dos senhores, sua continuidade cultural e espiritual, na macumba e no manifesto carnavalesco.

Se essa é a cultura do Brasil, então vivemos num país sem cultura verdadeira, e aquilo que havia no Brasil que permitiu a criação dessas obras-primas já não existe mais.